sábado, 20 de novembro de 2010

Projecto Xévora Vivo (PXV) 2010/2011 - 1.ª saída de campo (nocturna)


 


O Projecto Xévora Vivo (PXV), agora no seu segundo ano de vida, reiniciou a sua actividade, após o merecido interregno estival. Este projecto, seguindo a filosofia do Projecto RIOS, adoptou, no ano lectivo transacto, um troço de 500 m de uma linha de água. No nosso caso, a escolha recaiu sobre o rio Xévora, pelo importante valor paisagístico, biológico e cultural que as suas águas, e zonas marginais, apresentam. Alguns destes recursos, devido a factores de natureza global, à utilização local de agro-químicos na prática agrícola, mas principalmente por um uso descuidado/desregrado, por parte de algumas pessoas, durante as festividades da Nossa Sra. da Enxara, encontram-se, claramente, ameaçados. Por este motivo, nasceu o Projecto Xévora Vivo.

Este ano queremos amadurecer e, de uma forma ainda mais incisiva e eficiente, continuar a “perseguir”os objectivos que, desde o início, nos propusemos atingir, entre os quais constam: (i) contribuir para a implementação da educação ambiental enquanto área transversal na política das escolas; (ii) promover a curiosidade científica e (iii) implementar o método científico experimental.

No dia 29 de Outubro de 2010, teve lugar a nossa primeira saída de campo. Tratou-se de uma saída nocturna, que contou com a participação de um grupo de alunos do 12.º A. Estes alunos mostraram vontade de colaborar e serem parceiros do PXV, pois optaram, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, por uma temática relacionada com a biodiversidade na região de Campo Maior. Nesta ocasião, o objectivo dos alunos consistiu em aprenderem a identificar anfíbios pós-metamorfoseados e, paralelamente, começarem a recolher dados que permitam, a posteriori, determinar a riqueza específica e a abundância relativa das espécies ocorrentes na zona da Nossa Sra. da Enxara.

Na noite citada supra, o trabalho de campo teve início às 19h00 e terminou por volta das 23h00. A metodologia adoptada na prospecção de anfíbios foi a realização de transectos pedestres, desta feita, no caminho de terra existente na margem esquerda do rio Xévora. Graças ao uso de lanternas, à disposição em linha dos elementos presentes, mas também porque as condições climatéricas eram favoráveis (temperatura amena e tempo chuvoso), foi uma noite muito produtiva, uma vez que, foram localizados 35 espécimes, entre adultos e juvenis, pertencentes a 6 espécies distintas (salamandra-de-costelas-salientes Pleurodeles waltl; salamandra-de-pintas-amarelas Salamandra salamandra; rã-de-focinho-pontiagudo Discoglossus galganoi; sapo-de-unha-negra Pelobates cultripes; sapo-corredor Epidalea calamita e rã-verde Pelophylax perezi). Epidalea calamita foi a espécie mais frequentemente encontrada, seguindo-se Pelobates cultripes.

Fotografia de Epidalea (=Bufo) calamita (juvenil em dispersão) identificado na saída de campo (Fonte: João Toscano 12.º A). Os indivíduos desta espécie não possuem a capacidade de saltar, deslocando-se, em meio terrestre, por pequenas corridas, daí a designação vernácula sapo-corredor.

Vídeo mostrando E. calamita em corrida.
(Fonte: própria)


Fotografia de Pelobates cultripes. O sapo-de-unha-negra possui um tubérculo metatarsiano muito desenvolvido (unha/espora de coloração negra), que utiliza para se enterrar em meio arenoso.


Fotografia de salamandra-de-pintas-amarelas encontrada na saída de campo.
Trata-se de uma das duas sub-espécies que ocorrem em Portugal (Salamandra salamandra gallaica).
(Fonte: própria).


Salamandra salamandra gallaica filmada na noite da saída.
(Fonte: própria).


Fotografia de Pleurodeles walt. Este batráquio é o maior urodelo (anfíbio sem cauda) da Península Ibérica. O nome vulgar deriva do facto de possuir, tipicamente, uma fileira de 7 a 9 protuberâncias de cor alaranjada que coincidem com as extremidades das costelas.


Foto de rã-de-focinho-pontiagudo. Este anuro (anfíbio desprovido de cauda), com aspecto de rã, é, na verdade, um sapo.


Foto de rã-verde Pelophylax (= Rana) perezi.

Um dos animais que deambulava pelo campo vizinho ao rio Xévora, mais precisamente um sapo-de-unha-negra, chamou muito a atenção dos alunos, pois não possuía o membro posterior direito. Esta deformidade pode ter sido o resultado, durante a fase de girino, de um acto predatório por parte de uma larva de libélula, mas também pode tratar-se de uma malformação ocasionada pela acção de contaminantes ambientais, por exemplo agrícolas.

Fotografia de Pelobates cultripes “mutante”, encontrado durante a saída nocturna de 29/10/2010.
(Fonte: própria). 


Vídeo do sapo-de-unha-negra em locomoção (mas difícil).
(Fonte: própria).

Dos 35 espécimes identificados, nem todos foram encontrados no caminho agrícola. Alguns encontravam-se dentro de infra-estruturas, largamente utilizadas, em Portugal, mas também noutros locais do mundo, para facilitar a passagem de viaturas e pessoas, mas impeditivas da deslocação do gado ao longo das estradas/caminhos – trata-se das passagens em grelha ou passagens canadianas. Os alunos, na sequência do salvamento daqueles animais, voluntariaram-se para auxiliar o PXV a desenvolver uma pequena investigação, com o intuito de avaliar o efeito de armadilha das passagens em grelha, existentes na zona da Nossa Sra. da Enxara, sobre as populações de batráquios que ali existem. Estamos todos desejosos que cheguem as chuvas primaveris para iniciarmos esta tarefa, mas, desta feita, também incluindo alunos de 11.º ano que, entretanto, integraram o Projecto Xévora Vivo.


Fotografia de passagem em grelha.
(Fonte: própria).


Desenho esquemático de passagem em grelha.
(Fonte: própria).

Alcides Silva (Mestre em Biologia da Conservação, Docente de Biologia e Geologia/Ciências Naturais e Responsável pelo Projecto Xévora Vivo).

quarta-feira, 7 de abril de 2010

IMPORTÂNCIA DAS MASSAS DE ÁGUA DOCE PARA OS ANFÍBIOS

Rela-meridional (Hyla meridionalis)

A água é um recurso estratégico para a Humanidade, pois, permite a manutenção da biodiversidade, dos ciclos naturais e representa uma importante fonte de alimento. Todavia, em resultado das muitas pressões antrópicas a que está sujeito este precioso recurso, em particular as massas aquáticas de água doce, é frequentemente alvo de ameaças que podem pôr em causa a continuidade do desenvolvimento económico e social da população humana, bem como, a longo prazo, comprometer a existência da nossa própria espécie.

Uma situação que está necessariamente associada à manutenção das massas de água doce, mas é, quase sempre, desprezada pela população em geral, e pelos nossos governantes, em particular, diz respeito à conservação das populações de anfíbios que, ao contrário do que se possa pensar, também contribuem significativamente para o bem-estar da Humanidade. Todavia, este grupo de animais vertebrados, enfrenta, de acordo com os especialistas, um declínio global sem precedentes, em resultado da acção conjunta de uma grande diversidade de factores. O declínio, a nível mundial, das populações de anfíbios, inicialmente desprezado pelos herpetologistas, pois, era interpretado como sendo resultado de flutuações populacionais próprias deste grupo animal, é, actualmente, considerado como extremamente gravoso, face às funções evidenciadas pelos batráquios nos ecossistemas, e à sua importância, directa, para a humanidade.

No mundo natural, a batracofauna consegue desempenhar uma grande variedade de papéis, considerados cruciais por muitos especialistas nesta matéria. Um dos papéis que este grupo desempenha, está relacionado com as teias tróficas, pois são seres que actuam como presas e como predadores. Mas os anfíbios também podem constituir importantes indicadores da resiliência e saúde ambientais, a nível global, uma vez que são bons indicadores da poluição devido a utilizarem habitats, quer terrestres quer aquáticos, e ao facto da sua pele ser muito permeável e, consequentemente, muito sensível à presença de poluentes. Os anfíbios possuem, ainda, outra potencialidade, relacionada com o facto de poderem vir a ser importantes fontes de produtos farmacológicos, sendo, inclusive, algumas das substâncias extraídas de anfíbios já utilizadas no fabrico de medicamentos para tratamento de queimaduras, ataques cardíacos ou analgésicos.

Alcides Silva – Projecto “Xévora Vivo”

segunda-feira, 22 de março de 2010

A IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO RIBEIRINHA

O regime dos cursos de água da nossa região varia muito ao longo do ano devido à irregularidade da precipitação. No Verão o caudal reduz-se muito, chegando mesmo a secar nalguns troços do percurso dos rios e ribeiras. No período das águas altas os caudais aumentam de tal modo que ultrapassam largamente o leito normal do rio, invadindo as margens. A força da corrente, arrastando sedimentos de vários calibres, tem uma capacidade erosiva muito elevada. No caso de cursos de água em que a vegetação ribeirinha é muito reduzida ou mesmo ausente, o efeito erosivo é devastador porque vai haver um rápido escorrimento superficial para o curso de água e a força da corrente vai desgastar as margens, alargando o leito e arrastando grandes quantidades de materiais que serão depositados quando a força da água diminuir, mais a jusante. Daqui decorre que é fundamental manter a vegetação que se encontra nas margens dos rios e ribeiras, tanto no que respeita às árvores, como ao estrato arbustivo e herbáceo. Este conjunto de plantas tem também como função muito importante facilitar a infiltração da água no solo. A vegetação dos leitos e das margens torna estas áreas permeáveis, permitindo a circulação da água entre o lençol freático e a superfície. Sem o efeito que as raízes têm, ao tornarem os solos menos compactos, a água teria mais dificuldade em se infiltrar para recarregar os aquíferos, afectando as nascentes, as quais podem mesmo chegar a secar.
Muitos outros aspectos há a considerar para que se cuide e proteja a vegetação ribeirinha. No que respeita à actividade agrícola, desempenha uma função de filtro dos poluentes utilizados nas culturas, a maioria dos quais não irá chegar ao curso de água. As folhas que caem das árvores constituem importante alimento para as diferentes formas de vida que se desenvolvem na água, desde os microorganismos que degradam a matéria orgânicas até aos peixes. Abrigando uma fauna muito diversificada, as galerias ripícolas são muito importantes para controlar pragas que afectam as culturas
Qualquer intervenção sobre este ecossistema está sujeita a condicionantes que se justificam plenamente dada a sua importância e também para evitar desastres irreversíveis que já aconteceram em muito cursos de água, resultantes de acções que transformaram artificialmente estes sistemas naturais.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Acção de Limpeza das margens do rio Xévora

No passado dia 20 de Fevereiro, pelas 14.30, decorreu a primeira acção de limpeza das margens do rio Xévora, actividade integrada no Projecto Xévora Vivo.
Contou-se com a participação de 11 voluntários pertencentes a várias instituições de Campo Maior, nomeadamente, a Associação ALDEIA – Projecto RAIA, a Escola Secundária, Academia Sénior e Câmara Municipal. Também contou com voluntários provenientes de Portalegre.
A intervenção foi realizada no local da Nossa Senhora da Enxara ao longo de 500 metros na margem esquerda do rio, de montante para jusante, e cerca de 100 metros na margem direita.
Foram recolhidos cerca de 400 quilos de lixo, entre o qual se encontraram garrafas de vidro e de plástico, latas, caricas, tapetes, pneus, esponjas, baterias de carro, sacos e até mesmo um frigorífico, entre outros materiais inertes..
Devido ao adiantado da hora, tornou-se impossível a recolha nos restantes 4oo metros na margem direita do rio.
A equipa de recolha do lixo ficou impressionada com a quantidade de lixo encontrada nesta pequena área protegida, pertencente à Rede Natura 2000 do Concelho.
A próxima acção de limpeza será agendada para uma data a anunciar, posterior às festas da Nossa Senhora da Enxara, de modo a inferir o impacto, em termos de poluição por inertes, deste evento neste património natural.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Acção de limpeza de um troço de 500m das margens do rio Xévora, terá lugar a 20 de Fevereiro, sábado após o carnaval. A partida será na Avenida da Liberdade, às 14.30, onde estará o transporte da Câmara Municipal de Campo Maior. Esta iniciativa está a cargo do Projecto RAIA, sendo desenvolvida pela equipa do Xévora Vivo, elementos da Escola Secundária de Campo Maior e da Academia Sénior de Campo Maior. Gostaríamos de contar com a vossa presença.

As inscrições poderão ser feitas através do email proj.raia@gmail.com ou poderá dirigir-se ao gabinete da Academia Sénior das 14h às 18h.
A água é essencial para sustentar a vida e deveria ser preservada, mas, infelizmente, nem sempre isso acontece. Esta situação põe em risco a sobrevivência de bastantes seres vivos e pode ter graves consequências na saúde dos seres humanos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde "Um curso de água considera-se poluído logo que a composição ou estado da água são directa ou indirectamente modificados pela actividade humana, de tal maneira que a água se presta menos facilmente às utilizações que teria no seu estado normal. (...)”
Um dos grandes problemas dos rios, e falando do Xévora em particular, é a poluição causada pelo acumulação lixo urbano.
Em condições normais, os rios renovam-se por si mesmos, através da acção de seres vivos aquáticos. Com a poluição excessiva, essa renovação torna-se mais difícil para além de ficar mais lenta.
Assim, torna-se necessário uma consciencialização e responsabilização por parte do Homem.
Se não forem tomadas medidas de prevenção antes da água estar completamente degradada, será então bastante mais dispendioso para as autoridades competentes por em prática as medidas de recuperação que então serão necessárias.
Ouve-se dizer muitas vezes que é necessário limpar as margens do rio cortando a vegetação de forma a evitar cheias. Porém, a decomposição das folhas é a principal fonte de energia de invertebrados aquáticos que servem de alimento a peixes para além de prevenir cheias, uma vez que as raízes permitem a infiltração da água no subsolo e evitam a erosão das margens.
Com o objectivo de consciencializar e responsabilizar a população campomaiorense, vai ser realizado, com o apoio da Câmara Municipal de Campo Maior e da Delta Cafés, uma acção de limpeza das margens do rio Xévora, na zona da Nossa Senhora da Enxara, no dia 20 de Janeiro. Quem estiver interessado em participar, deve dirigir-se à direcção da Academia Sénior de Campo Maior ou enviar uma email para proj.raia@gmail.com.