O Projecto Xévora Vivo (PXV), agora no seu segundo ano de vida, reiniciou a sua actividade, após o merecido interregno estival. Este projecto, seguindo a filosofia do Projecto RIOS, adoptou, no ano lectivo transacto, um troço de 500 m de uma linha de água. No nosso caso, a escolha recaiu sobre o rio Xévora, pelo importante valor paisagístico, biológico e cultural que as suas águas, e zonas marginais, apresentam. Alguns destes recursos, devido a factores de natureza global, à utilização local de agro-químicos na prática agrícola, mas principalmente por um uso descuidado/desregrado, por parte de algumas pessoas, durante as festividades da Nossa Sra. da Enxara, encontram-se, claramente, ameaçados. Por este motivo, nasceu o Projecto Xévora Vivo.
Este ano queremos amadurecer e, de uma forma ainda mais incisiva e eficiente, continuar a “perseguir”os objectivos que, desde o início, nos propusemos atingir, entre os quais constam: (i) contribuir para a implementação da educação ambiental enquanto área transversal na política das escolas; (ii) promover a curiosidade científica e (iii) implementar o método científico experimental.
No dia 29 de Outubro de 2010, teve lugar a nossa primeira saída de campo. Tratou-se de uma saída nocturna, que contou com a participação de um grupo de alunos do 12.º A. Estes alunos mostraram vontade de colaborar e serem parceiros do PXV, pois optaram, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, por uma temática relacionada com a biodiversidade na região de Campo Maior. Nesta ocasião, o objectivo dos alunos consistiu em aprenderem a identificar anfíbios pós-metamorfoseados e, paralelamente, começarem a recolher dados que permitam, a posteriori, determinar a riqueza específica e a abundância relativa das espécies ocorrentes na zona da Nossa Sra. da Enxara.
Na noite citada supra, o trabalho de campo teve início às 19h00 e terminou por volta das 23h00. A metodologia adoptada na prospecção de anfíbios foi a realização de transectos pedestres, desta feita, no caminho de terra existente na margem esquerda do rio Xévora. Graças ao uso de lanternas, à disposição em linha dos elementos presentes, mas também porque as condições climatéricas eram favoráveis (temperatura amena e tempo chuvoso), foi uma noite muito produtiva, uma vez que, foram localizados 35 espécimes, entre adultos e juvenis, pertencentes a 6 espécies distintas (salamandra-de-costelas-salientes Pleurodeles waltl; salamandra-de-pintas-amarelas Salamandra salamandra; rã-de-focinho-pontiagudo Discoglossus galganoi; sapo-de-unha-negra Pelobates cultripes; sapo-corredor Epidalea calamita e rã-verde Pelophylax perezi). Epidalea calamita foi a espécie mais frequentemente encontrada, seguindo-se Pelobates cultripes.
Fotografia de Epidalea (=Bufo) calamita (juvenil em dispersão) identificado na saída de campo (Fonte: João Toscano 12.º A). Os indivíduos desta espécie não possuem a capacidade de saltar, deslocando-se, em meio terrestre, por pequenas corridas, daí a designação vernácula sapo-corredor.
Vídeo mostrando E. calamita em corrida.
(Fonte: própria)
Fotografia de Pelobates cultripes. O sapo-de-unha-negra possui um tubérculo metatarsiano muito desenvolvido (unha/espora de coloração negra), que utiliza para se enterrar em meio arenoso.
Fotografia de salamandra-de-pintas-amarelas encontrada na saída de campo.
Trata-se de uma das duas sub-espécies que ocorrem em Portugal (Salamandra salamandra gallaica).
(Fonte: própria).
Salamandra salamandra gallaica filmada na noite da saída.
(Fonte: própria).
Fotografia de Pleurodeles walt. Este batráquio é o maior urodelo (anfíbio sem cauda) da Península Ibérica. O nome vulgar deriva do facto de possuir, tipicamente, uma fileira de 7 a 9 protuberâncias de cor alaranjada que coincidem com as extremidades das costelas.
Foto de rã-de-focinho-pontiagudo. Este anuro (anfíbio desprovido de cauda), com aspecto de rã, é, na verdade, um sapo.
Foto de rã-verde Pelophylax (= Rana) perezi.
Um dos animais que deambulava pelo campo vizinho ao rio Xévora, mais precisamente um sapo-de-unha-negra, chamou muito a atenção dos alunos, pois não possuía o membro posterior direito. Esta deformidade pode ter sido o resultado, durante a fase de girino, de um acto predatório por parte de uma larva de libélula, mas também pode tratar-se de uma malformação ocasionada pela acção de contaminantes ambientais, por exemplo agrícolas.
Fotografia de Pelobates cultripes “mutante”, encontrado durante a saída nocturna de 29/10/2010.
(Fonte: própria).
Vídeo do sapo-de-unha-negra em locomoção (mas difícil).
(Fonte: própria).
Dos 35 espécimes identificados, nem todos foram encontrados no caminho agrícola. Alguns encontravam-se dentro de infra-estruturas, largamente utilizadas, em Portugal, mas também noutros locais do mundo, para facilitar a passagem de viaturas e pessoas, mas impeditivas da deslocação do gado ao longo das estradas/caminhos – trata-se das passagens em grelha ou passagens canadianas. Os alunos, na sequência do salvamento daqueles animais, voluntariaram-se para auxiliar o PXV a desenvolver uma pequena investigação, com o intuito de avaliar o efeito de armadilha das passagens em grelha, existentes na zona da Nossa Sra. da Enxara, sobre as populações de batráquios que ali existem. Estamos todos desejosos que cheguem as chuvas primaveris para iniciarmos esta tarefa, mas, desta feita, também incluindo alunos de 11.º ano que, entretanto, integraram o Projecto Xévora Vivo.
Fotografia de passagem em grelha.
(Fonte: própria).
Desenho esquemático de passagem em grelha.
(Fonte: própria).
Alcides Silva (Mestre em Biologia da Conservação, Docente de Biologia e Geologia/Ciências Naturais e Responsável pelo Projecto Xévora Vivo).